BURNOUT, a síndrome do esgotamento profissional
- mafe.martins.68
- 13 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

Maria Fernanda Martin Rosella*
Quando ouvimos o relato de alguém que chegou a um quadro de exaustão emocional, com aparente colapso físico e mental, logo suspeitamos de um excesso de empenho em determinada atividade, sem o devido planejamento ou sob pressão externa alheia à sua vontade. Entretanto nem sempre a realidade é esta.
Todos nós conhecemos aquele tipo workaholic, revelado no indivíduo capaz de destinar a maior parte de seu tempo em uma atividade de trabalho, abrindo mão de sua vida social e de lazer, reduzindo seus momentos de descanso, na enganosa crença de ser parte de um estágio da vida transitório no qual suas necessidades básicas podem ser ignoradas por um objetivo maior. Estas são as condições ideais para que se aumente o risco de sofrer de uma síndrome do esgotamento profissional, conhecida como burnout, registrado como um transtorno do grupo V da CID 10 (Classificação Internacional de Doenças relacionadas à Saúde).
O termo, que sugere as consequências de uma exaustão - “combustão por completo”, foi criado pelo psicanalista H. Freudenberger na década de 70, para relacionar a uma síndrome que acometia aqueles que lidavam mais diretamente com o sofrimento humano.
Pode-se incluir neste contexto algumas categorias como as do psicólogo, do enfermeiro e do cuidador, pela própria condição a que estão expostos e consequente inabilidade em estabelecer limites nas interações por vezes não recíprocas.
Estas profissões comumente acumulam tarefas e metas difíceis de atingir, que independe apenas da vontade de quem as executa, mas há também casos em que a atividade profissional é tida como fonte única de prazer e ainda que o indivíduo apresente sinais de extremo cansaço, estes costumam ser ignorados. Quando enfim os sintomas são perceptíveis, uma pane no sistema pode estar instalada, estabelecendo assim o quadro determinante da síndrome.
Existem alguns sinais que facilitam a identificação gradual da crise, mas nem sempre são reconhecidos pelo indivíduo já tomado pela rotina de um desempenho compulsivo na realização das tarefas. O indivíduo vai querer produzir mais - ainda que sobrecarregado e debilitado, negligenciar suas outras necessidades, burlar seu ritmo circadiano, até chegar ao último estágio da exaustão.
Quem convive com este profissional em crise, pode perceber o avanço do problema mas, sem saber como interferir e no intuito de ajudá-lo, tenta aconselhá-lo a buscar uma pausa ou, ao contrário, motivá-lo a se animar e reagir, o que poderá agravar ainda mais o quadro.
Entre as causas individuais para esta vulnerabilidade, podem estar o idealismo, o perfeccionismo, a necessidade do controle, a dificuldade em delegar tarefas que não dependam da participação direta. Com o tempo a irritabilidade, a impaciência, e os acessos de explosão são recorrentes. Períodos de excitação são intercalados com de exaustão, até cair a produtividade, o rendimento e a capacidade de lidar com as tarefas antes dominadas.
Hormônios como o cortisol passam a ser liberados no organismo, ampliando os riscos de cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico entre outros, mas por ser considerada uma doença ocupacional, determina-se o afastamento para que o indivíduo procure desligar ou ao menos desacelerar, se assim o conseguir. Espera-se que nestes casos o retorno às atividades seja gradual, mas será sempre necessária a devida avaliação das motivações pessoais para que o quadro não se torne recorrente, perpetuando um ciclo vicioso.
Entender os sinais emitidos pelo corpo, cuidando de suas demandas internas, buscando apoio pela psicoterapia, pela meditação, pelos exercícios físicos, ou por tudo aquilo que faça perder a conexão direta com as atividades rotineiras de trabalho é fundamental, para o retorno da sanidade física e mental do indivíduo.
Somente com uma mudança no estilo de vida, encontrando outras fontes de gratificação e prazer, será possível conquistar uma qualidade de vida ideal, que na maioria das vezes é redescoberta muito além da intensidade do labor ou da dependência da labuta.
*Maria Fernanda Martins Rosella é psicóloga clínica formada há mais de 18 anos pela FMU, atualmente trabalha como mediadora judicial junto ao conselho nacional de justiça e é pesquisadora dos impactos da psique humana sobre as decisões profissionais no mundo corporativo. Sempre ligada no mundo da carreira profissional no mundo contemporâneo, contribuiu mui generosamente para esse humilde blog.
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