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  • Foto do escritor: joana.getlinger
    joana.getlinger
  • 29 de nov. de 2017
  • 2 min de leitura

Joana Santomauro*


Tende-se a acreditar que o pior dos males da camarotização, fenômeno recente de segregação entre classes sociais através da limitação de espaços privados baseado na capacidade de compra, está na limitação da interação entre classes. Essa dificultaria a formação de cidadãos que aceitam as diferenças e reconhecem as semelhanças. Porém, o seu pior efeito para a sociedade está no esvaziamento da cidadania, que por sua vez fere a democracia.

A camarotização acaba por criar espaços privados dentro de espaços públicos, antes acessíveis a todos, agora, dependendo de seu poder de compra. O valor mais importante de um indivíduo deixa de ser sua cidadania e passa a ser seu status como consumidor. O desaparecimento do espaço comum entre classes acaba ainda por criar a impressão de destinos/futuros diferentes, causando uma “desindentificação”, ou seja, a falta de sentimento de responsabilidade comum ou de pertencimento a um mesmo grupo, seja como brasileiros seja como humanos. Isso seria causa da ideia difundida entre a elite brasileira de que os pobres que terão que lidar com os atuais problemas do Brasil, optando ela por se mudar para outros países mais “desenvolvidos” (lê-se civilizados).


Outro efeito grave da camarotização para a sociedade está na precarização dos serviços públicos. Os políticos brasileiros são, em sua maioria, membros das classes dominantes, que não consideram os serviços públicos como uma opção, preferindo os privados, de maior qualidade. Essa tendência acaba resultando em homens que nunca andaram de ônibus ou utilizaram um hospital público tomando decisões estruturais sobre esses, afetando a maioria da população, que não possui meios para utilizar os meios privados.


Portanto, a camarotização acaba por esvaziar a cidadania, precarizar os serviços públicos e limitar as liberdades daqueles com menor poder de compra, além de segregar as classes sociais. A democracia não é mais priorizada, sendo a capacidade de compra de cada indivíduo determinante sobre a posição política que representa na sociedade. As pessoas deixam de ser em primeiro lugar cidadãos e passam a ser primeiro consumidores.


*Joana Santomauro tem 17 anos, é estudante recém-formada no ensino médio do Colégio Santa Cruz, candidata a universitária de economia na cidade de São Paulo. Atualmente estuda os fenômenos da crise politica na economia brasileira e seus efeitos sobre as classes sociais menos favorecidas.

 
 
 

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